NÚCLEO DE JUSTIÇA RESTAURATIVA DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE TIETÊ - Tietê / SP
Este projeto
transcorrerá na implementação da JUSTIÇA RESTAURATIVA, no âmbito da Educação no
Município de Tietê, o qual envolverá profissionais, técnicos, famílias e comunidade,
na construção de um novo saber mediante os conflitos e atos de violências nos
espaços das Unidades Escolares, onde os sistemas de justiça e educação se
articulam para a construção de um modelo socialmente democrático de solução de
conflitos, numa concepção de restaurar o indivíduo e resgatar as relações
humanas.
Os conflitos são
resolvidos de forma não violenta; busca-se a responsabilização do ofensor.
Transcende-se a dinâmica da culpa e da vingança, onde os sujeitos passam a ter
o poder, a partir do diálogo, para esclarecimento e conscientização,
subvertendo assim a lógica da dominação e da exclusão, com base em um modelo
democrático. O foco não é a pessoa que cometeu o ato, mas as causas que a
provocaram.
A Justiça
Restaurativa baseia-se num procedimento de consenso, em que vítima e infrator,
e, quando apropriado, outras pessoas ou membros da comunidade afetados pelo
conflito, como sujeitos centrais, participam coletiva e ativamente na
construção de soluções dos traumas e perdas causados pelo ato que causou os
danos. É uma modalidade diferenciada de resposta ao conflito que busca
resolver o problema que causou o delito, considerando suas causas e
consequências e adotando procedimentos para promover a restauração das relações
e a reparação dos danos causados.
Em tempos em que a sociedade se depara com um incremento das situações de
violência e criminalidade, é cada vez maior o clamor popular no sentido de uma
atuação mais intensa do sistema punitivo nas mais variadas esferas, desde o Poder
Judiciário, passando pelas escolas, até chegar às famílias. Contudo, o
paradigma punitivo não se mostra apto a garantir os resultados que dele se
espera, por isso a necessidade de buscarmos novas formas de pensar e agir que,
efetivamente, possam resolver o problema da violência, sem retroalimentá-la, o
que passa necessariamente pela busca da compreensão do erro e do outro, pelo
atendimento das necessidades, pela oportunidade e pela responsabilização
consciente.
Os conflitos quase sempre foram vistos como algo negativo na nossa sociedade. A
partir da mudança desse olhar, entendendo que o conflito pode ser um propulsor
para um diálogo e daí uma transformação na convivência, a Justiça Restaurativa
tem seu lugar para uma Cultura de Paz.
A violência pode ser compreendida como um processo de rupturas de diálogos,
quando os conflitos não são cuidados.
Nas escolas podem acontecer, e acontecem, momentos de grande violência. E a
função dos gestores restaurativos é cuidar do equilíbrio, investigando os
fatores, internos e externos, que contribuem com o desequilíbrio da sua unidade
escolar, causando a quebra da confiança e o desrespeito. A ausência de diálogo
oculta os conflitos, que acabam por se expressar de formas violentas nas
escolas e salas de aula.
Um exemplo:
· SITUAÇÃO A
Um professor entra na sala do oitavo ano pela manhã e escuta Jason xingar Sam.
O professor leva Jason até o corredor e conversa com ele sobre o tipo de
linguagem e como Sam poderia estar se sentindo.
Ele diz que não será mais tolerado esse tipo de tratamento e que esse
comportamento tem que parar. Jason tenta contar alguma coisa, mas o professor
insiste que aquilo não pode mais acontecer.
Eles voltam para a sala, a aula prossegue e Sam e Jason continuam zangados um
com o outro.
· SITUAÇÃO B
Um professor entra na sala do oitavo ano pela manhã e escuta Jason xingar Sam.
O professor leva os dois para o corredor e lhes diz que gostaria de falar com
os dois logo após o almoço na sala de aula.
Durante esse encontro ele pergunta o que está havendo, visto que parece que
estão havendo dificuldades entre eles durante as últimas semanas. Jason conta
que Sam estava sempre roubando seu caderno e escondendo. Jason sabia que era
brincadeira, mas acabou se irritando e pediu que Sam parasse.
Sam continuou e ontem Jason se encrencou porque tinha que entregar uma lição de
inglês que estava no caderno, que ele não conseguia encontrar. Jason se sentiu
prejudicado e xingou Sam. E o professor escutou.
Sam admite que exagerou na brincadeira e diz não saber da lição de inglês. Sam
diz a Jason que suas ações não davam o direito de xingá-lo na frente de todos
da classe.
Os dois se pedem desculpas, concordam que as coisas acabaram ficando fora de
controle e afirmam não desejaram a continuação das hostilidades.
Justificativa
A Escola deve ser
um espaço de todos e para todos.
O contexto social,
político, econômico e organizacional – assim como as características do nosso
sistema educativo – é criado por interações entre pessoas, e nós participamos
ativamente de tais interações. Então, se somos nós que criamos os sistemas, nós
mesmos podemos transformar o que está posto em interações mais humanizadas.
O equilíbrio da
Escola é propiciado quando as necessidades básicas das pessoas estão sendo
satisfatoriamente atendidas: segurança, autonomia, competências e os conflitos
são entendidos com o diálogo. O equilíbrio rompido pode ser traduzido como
frustração de necessidades e desejos das pessoas envolvidas.
Com a Justiça
Restaurativa há a busca de respostas mais humanas às situações de conflito,
pautadas por uma cultura de paz e pelo amor ao ser humano, em que a comunidade
assume a sua parcela de responsabilidade – que não significa culpa – no auxílio
àquela pessoa que cometeu um erro, para a sua reconstrução.
Esse projeto se
justifica por fortalecer o trabalho em rede promovendo parceria entre todos os
atores, tornando possível superar e enfrentar problemas que, isoladamente,
nenhuma das instituições ou organizações seria capaz de resolver. O
envolvimento e empoderamento de crianças e adolescentes, bem como suas famílias
e comunidade, na resolução de situações de conflito, constitui uma poderosa via
de efetivação do Estatuto da Criança e do Adolescente.
A participação dos
envolvidos na resolução do conflito e na construção de condições de convivência
como também a construção coletiva pelas redes secundárias de atendimento das
estratégias de promoção, possibilita maior participação e responsabilidade
compartilhada por todos os afetados.
Entendendo que as
instituições: Educação, CREAS, Conselho Tutelar, e tantas outras, não podem
lidar sozinhas com a violência, busca-se a construção de um trabalho
interinstitucional.
Eixo
Equidade, Justiça Social e Cultura de PazObjetivos
Objetivos Gerais
· As escolas da Rede
Municipal de Tietê buscam se transformar em espaços protegidos de encontros de
Paz. Escolas onde todos possam ser contemplados na sua integridade, onde os
conflitos diários sejam entendidos como momentos de transformações necessárias.
· A Justiça Restaurativa
no âmbito da Educação tem como objetivo potencializar a condição humana diante
de suas fragilidades, para o desenvolvimento de alternativas para o
enfrentamento de seus conflitos e violências praticados na escola. Dado por
meio de procedimentos restaurativos, possibilitando às pessoas
envolvidas identificação de sentimentos e necessidades diante do conflito
e busca da solução coletiva para o resgate da essência humana.
· Proporcionar condições
efetivas de atendimento das necessidades específicas das partes envolvidas no
conflito bem como das demandas coletivas.
· Conectar pessoas além dos
rótulos de vítima, ofensor e testemunha; desenvolvendo ações construtivas que
beneficiem a todos, tendo o foco nas necessidades determinantes e emergentes do
conflito, de forma a aproximar e co-responsabilizar todos os participantes, com
um plano de ações que visa restaurar laços sociais, compensar danos e gerar
compromissos futuros mais harmônicos, contribuindo para a restauração ou
construção dos vínculos sociais.
· Protagonismo das
partes, a reparação da vítima e a reabilitação do ofensor, de forma a reduzir
os ciclos de violência e criminalidade e promover a Cultura de Paz.
Objetivos específicos
· Todo corpo docente,
gestores e comunidade escolar compreenderem o que é Justiça Restaurativa e a
Cultura de Paz;
· O corpo discente
entender as transformações no seu ambiente escolar;
· Realização de
processos circulares em casos em que sejam necessários;
· Mobilização da Rede
Pública de Apoio para as necessidades elencadas.
· Continuidade da
Formação teórica para docentes e gestores;
Cronograma
Público Alvo
Professores, educandos, trabalhadores da rede de
Educação do Município de Tietê, família e comunidade escolar. As atuações da
Justiça Restaurativa acontecerão com a Formação dos profissionais da Unidade Escolar,
conforme cronograma a seguir:
2014
· · EMEB “Profª Maria José
Pires Biagioni” – gestores e 06 funcionários
· EMEB “Prof. João
Marcos Baptista Marcuz” – gestores e 06 funcionários
· · EMEB “Profª Sarah de Araújo
Martins Bonilha” – gestora e 03 professores
· · EMEB “Luiz Antunes” –
503 alunos – gestores e 06 funcionários
· · EMEB “Prof. Eleutério
José Moreira” – gestores e 06 funcionários
· · EMEB “Profª Aglassi
Elinda Fernandes Rodrigues” – gestores e 06 funcionários
· · EMEB “Profª Maria José
Dal Bó Giovanetti Polastre” – gestores e 06 funcionários
2015
· · CIREPEM - gestor
· · EMEB “Dr. Ruy Silveira
Mello”- gestor
· · EMEB “Profª Maria de
Lourdes Toledo Teixeira” - gestor
· · EMEB “Profª Alice de
Souza Melo Camargo” - gestor
· · EMEB “Prof. Paulo de
Souza Alves” - gestor
· · EMEB “Profª. Maria Carmela
Rondó Macruz - gestor”
· · EMEB “Educandário Rosa
Mística” - gestor
· · EMEB “Profª Ossin
José” - gestor
· · EMEB “Prof. Esaú de
Camargo Pontes” - gestor
· · EMEB “Vereador Nelson
Pinto” - gestor
· · EMEB “Profª Artemísia
de Almeida Barros” - gestor
· · EMEB “Prof. Aparício
de Campos Madureira” - gestor
· · EMEB “Gervásio de
Jesus Sutilo Florian” - gestor
· · EMEB “Roberto Sotovia”
- gestor
· · Escolas de Educação
Infantil e 1º ano
· · EMEB “Profª Zélia de
Camargo Arruda” - gestor
· · EMEB "Antonio
João Nastaro" - gestor
· · EMEB “Lázaro Aguirre
Siqueira Filho” - gestor
· · EMEB “Athayde Daniel” - gestor
· · EMEB “Profª. Carlina Alves Lima”
– gestores e 03 professores
· · EMEB “Prof. Milton
Soares de Camargo” – gestores e 03 professores
· · EMEB “Profª Lyria de
Toledo Pasquali” – gestores e 03 professores
2016
Acontece nesse ano de 2016 a intenção de criação do Núcleo Interinstitucional
de Justiça Restaurativa no Município de Tietê, envolvendo todas as instituições
e secretarias do Município de Tietê.
Todas as secretarias municipais estarão participando da formação em
Justiça Restaurativa com o objetivo de entender os conflitos de forma mais
humanizada.
Outra transformação que merece destaque é a alteração do Regimento Escolar
Único, quando trata do assunto punição e transferência compulsória. Esse tipo
de transferência de aluno foi retirada do Regimento, dando lugar a um trabalho
de Justiça Restaurativa e processos circulares, quando uma transferência possa
ser necessária ou não, ouvindo-se todos os envolvidos.
Resultados
A partir da primeira formação em Justiça
Restaurativa que aconteceu no segundo semestre de 2014, sentiu-se uma
transformação na maneira de pensar e agir dos educadores com relação aos alunos
e aos próprios colegas. Podemos chamar de uma transformação de atitudes,
agora mais amenas e tranquilas do que antes. Porém nem todos aderiram ou
entenderam a proposta da Justiça Restaurativa.
Em 2015, na segunda formação, toda Rede da Educação e também da Saúde,
Assistência social, Judiciário já conheciam os conceitos da JR por “ouvirem
falar”. Todas as escolas tiveram representantes nesse segundo momento e, agora
em 2016, os pedidos para processos circulares e encontros de JR estão
acontecendo de maneira mais intensiva.
Todas as escolas já
fizeram círculos de convivência e já estão aplicando o regimento escolar
inserindo os circulos restaurativos para as faltas leves, como forma de
prevenir faltas mais graves.
Quanto à expansão do projeto em
2016, existe a proposta do Senhor Prefeito em capacitar os funcionários de
todas as Secretarias Municipais e elementos da comunidade com o objetivo de
tornar Tietê uma cidade restaurativa.
Os resultados são
promissores e vão aos poucos tornando a convivência pacífica dentro das
escolas.
CONCLUSÃO
Podemos sonhar com uma escola como um ambiente protegido e onde caibam todas as
necessidades dos alunos, professores, gestores e comunidade escolar.
Ao aprender a reconhecer e a lidar com os conflitos e a prevenir ou interromper
violências, a comunidade escolar conquista o poder de superar problemas e,
assim, ajudar a transformar sua realidade.
Escolas seguras, em paz, conhecem episódios isolados nos quais o equilíbrio é
rompido: um aluno agride fisicamente um colega ou xinga um professor; uma
professora ofende um aluno; aparece uma bomba de fabricação caseira no
banheiro; a merenda é roubada.
Quando
eventos assim ocorrem, precisamos adotar procedimentos que os interrompam
imediatamente.
Entender a violência como um processo que se cristaliza durante décadas, como
um círculo vicioso, compreender que não é uma fatalidade, nem é imutável:
esse processo pode ser quebrado por iniciativa da escola e da comunidade.
E os resultados estão gerando
frutos: este ano Tietê foi convidada a participar de uma vídeo conferência no
dia 6 de maio de 2016, que será transmitida pelo canal do Tribunal de Justiça
para mostrar a experiência da implantação da Justiça Restaurativa na cidade.
JUSTIÇA
RESTAURATIVA EM TIETÊ
Dois
anos de transformações na convivência
Os
processos circulares acontecem nas escolas; são círculos restaurativos de
diálogo, de convivência ou de conflito:
·
Escola
Aglassi
è Círculos de diálogo e de convivência com os
educadores, círculos de conflitos envolvendo alunos, favorecendo
aproximadamente 100 pessoas.
·
Escola
João Marcos
è Círculos de diálogo e convivência com
educadores, envolvendo aproximadamente 30 pessoas.
è Círculo com a classe da aluna Gabriela que
desapareceu e não se tem conhecimento do seu paradeiro, com 40 pessoas.
·
Escola
Eleuterio
è Apoio aos irmãos da aluna Gabriela,
desaparecida, envolvendo 5 pessoas.
·
Escola
Sarah
è Círculo de convivência com educadores, com 20
pessoas.
è Círculo de diálogo com educadores, com 20
pessoas.
è Círculo de Apoio com aluno abrigado, com 5
pessoas.
è Círculo de conflito com mãe de aluno, com 5
pessoas.
è Círculo de fechamento do ano 2015
·
Escola
Zezé Giovanetti
è Círculo de conflito com aluno e família,
envolvendo 14 pessoas.
è Círculo de convivência entre alunos e
professores, com 30 alunos e 2 professores.
·
Escola
Zezé Biagioni
è Círculo de Convivência entre professores em
HTPC – 30 educadores.
·
Escola
Luiz Antunes
è Círculos de convivência entre professores e
alunos, envolvendo 56 pessoas.
è Círculo de diálogo com alunos de uma classe,
envolvendo 40 pessoas.
è Círculo de apoio com aluno em situação de
risco, com 12 pessoas.
·
Escola
Roberto Sotovia
è Círculo de convivência com professores e
funcionários – 15 pessoas
·
Escola
Esaú
è Círculo de Diálogo com tema “Equipe” – 25
pessoas
·
Secretaria
Municipal da Educação – Núcleo da Justiça Restaurativa
è Círculo de conflito – aluno G.F. – 12 pessoas
è Círculo de conflito – aluno P.S. – 10 pessoas
è Círculo de conflito – aluno M.S. – 08 pessoas
è Círculo de Diálogo com família de aluno H.J.
– 05 pessoas
Em todos os processos circulares de conflitos a Rede Pública
municipal é convidada a participar: saúde, assistência social, conselho tutelar,
CREAS, CRAS, CAPS, representante da escola e da secretaria da educação.
Traduzindo os processos circulares em números, somente na
educação foram envolvidas 482 pessoas entre professores, gestores e alunos, até
o momento.
Porém buscamos o envolvimento de toda Rede da Educação,
convidando a todos, incansavelmente, a repensar a convivência dentro e fora da
sala de aula.
Instituições Envolvidas
Escolas Municipais de Tietê
Secretarias Municipais da Prefeitura do
Município de Tietê, que indicam pessoas para a formação da equipe do projeto;
Polícia Militar
Guarda Municipal
CMDCA - Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente
CME - Conselho Municipal de Educação
CPP - Centro do Professorado Paulista
ONG Associação Arco-Íris
Casa dos Meninos
Casa de Maria
Infância Feliz
Educandário Rosa Mística
Conselho do Fundeb
APM das escolas municipais de Tietê
Fórum do Município de Tietê
Câmara Municipal de Tietê
Conselho Tutelar
CAE - Conselho de Alimentação Escolar
Associação Comercial de Tietê
Comunidade – Associações de Bairros
Escola Estadual “Plinio Rodrigues de Moraes”-
de Ensino Médio
Fórum do Município de Tatuí
Guarda Municipal de Laranjal
Contatos
Secretaria Municipal de Educação de Tietê
Rua Presidente Kennedy, 57 - Centro
Telefone: (15) 3285 3899
E-mail: [email protected]