Tiradentes, MG
- Cidade:
- Tiradentes
- Estado:
- Minas Gerais
- País:
- Brasil
- População total:
- 7.551 habitantes (2013)
- População rural:
- 3.094 habitantes (2013)
- População urbana:
- 5.376 habitantes (2010)
- População mulheres:
- 3.521 habitantes (2013)
- População homens:
- 3.440 habitantes (2013)
- Número de pessoas por quilômetro quadrado:
- 83,05 hab/km² (2013)
- Área total do município em quilômetros quadrados (km²):
- 83,00 km² (2010)
Tiradentes - MG
No reinado de D. Pedro II, de Portugal, as bandeiras cruzavam os vastos territórios das Gerais em busca de gentio para escravidão e principalmente imbuídos das idéias de descobrirem a serra resplandecente de pedras verdes. Os bandeirantes começaram a povoar o território que será conhecido como as famsas Minas Gerais. Subindo desde São Paulo, por entre serranias e longos vales, a bandeira de Fernão Dias Paes atravessa o Rio das Mortes, deixando aí vestígios de civilização. Por volta de 1700, Tomé Portes Del’Rey se estabeleceu como cobrador de pedágio, pela passagem no Rio das Mortes, no local denominado Porto Real da Passagem, que ainda conserva o mesmo nome.
Em 1702, um taubateano, João de Siqueira Afonso, de passagem pela região, identificou manchas auríferas nas encostas da Serra de São José. Siqueira Afonso já havia descoberto as minas do arraial do Sumidouro e de Guarapiranga (hoje, cidade de Piranga). Da exploração dos veios de ouro na serra e descoberta do metal precioso aluvional, nas águas do Rio das Mortes e do Rio Turvo nasceu uma povoação, com sua Capela dedicada a Santo Antônio. Alguns historiadores dão como primeiro nome a essa povoação o de Arraial da Ponta do Morro, contestado por outros que indicam Ponta do Morro como local próximo ao atual povoado de Pinheiro Chagas, no Município de Prados, onde, mais tarde, existiu a “Fazenda da Ponta do Morro” de propriedade do inconfidente Francisco Antônio de Oliveira Lopes e que, posteriormente pertenceu ao Comendador Francisco Antônio Teixeira Coellho. O certo é que o arraial ficou conhecido como Arraial Velho do Rio das Mortes, devido ao aparecimento do Arraial de Nossa Senhora do Pilar, denominado Arraial Novo do Rio das Mortes, em 1704 (hoje São João Del Rei).
Da primitiva Capela de Santo Antônio não restou documentação. Herculano Veloso diz ter existido três capelas com a mesma ivocação, chegando até nossos dias a de Santo Antônio do Canjica. A freguesia criada talvez antes de 1710 tinha como Matriz uma igreja de madeira que foi, após o referido ano, substituída por outra de taipa de pilão.
Sobre a controvertida origem da Vila de São José o Sargento-mor José Mattol, habitante da região àquela época, nos diz o seguinte na “notícia” que dá ao Pe. Diogo Soares: “o que posso informar a V. Revma. sobre o que me ordena, é, que no anno de 1702, pouco mais ou menos, descobriu Thomé Portes d’El-Rei junto ao sitio, em que hoje está a vila de S. José, um Ribeiro que elle, como substituto, do guarda-mor Garcia Rodrigues Paes, repartiu entre si, e alguns Taubateanos, onde formaram todos um arraial a que deram o nome de Santo Antônio, levantando nelle uma pequena Capella com a invocação do mesmo Santo, e nesta teve princípio a primeira Freguezia deste districto”.
Minas era um caldeirão, onde a exaltação dos ânimos provocada pelas disputas das terras auríferas vai resultar na Guerra dos Emboabas. Os Paulistas como verdadeiros descobridores das Minas reclamam para si a posse delas, em vista da invasão de portugueses, baianos e outros forasteiros. Começa aí uma série de motins, litígios em várias partes que vem a constituir a Guerra dos Emboabas. O termo emboaba significa perna peluda, alcunha que os paulistas deram aos forasteiros que usavam botas de cano alto, enquanto os paulistas andavam descalços. A verdade é que o Arraial de Santo Antonio, como grande parte do território mineiro, transformou-se em campo de desavenças, chegando mesmo a culminar com o famoso episódio do Capão da Traição, quando foram presos e executados por Bento do Amaral Coutinho, dezenas de Paulistas. Não se sabe, até onde vai a verdade e onde começa a fantasia. Nossos historiadores primeiros, imbuídos das idéias do romantismo, criaram muitas fantasias em torno de certos episódios da história mineira. Vejamos o que diz Rocha Pitta sobre o Capão da Traição: “Em distância de cinco léguas do Arraial do Rio das Mortes em que assistia Bento do Amaral Coutinho, se achava um grande troço de Paulistas dos mais destemidos e facinorosos, contra os quais mandou um destacamento de muitos homens, a cargo do Capitão Thomas Ribeiro Corço, o qual sem obrar cousa alguma voltou desculpando-se com o número dos contrários, incomparavelmente maior, que o da gente que levara. Enfurecido Bento do Amaral, marchou a buscá-los; e sendo sentido dos Paulistas, que se andavam divertindo e utilizando da caça, se recolheram a seus ranchos, ou alojamentos, que tinham em um capão, ou capoeira, (assim chamão no Brasil a moutas grandes ou moutas pequenas) que estavam no diâmetro de uma dilatada Campina, e ali determirãm defender-se do furor, com que os buscavam os Forasteiros, prevendo iria com eles o mesmo Amaral, que conheciam por arrojado e cruel.
Mandou botar cordão à mata e logo os Paulistas disparando de cima das árvores as escopeitas mataram a um valoroso negro, e feriram duas pessoas de suposição, que estavam junto a Bento de Amaral, e outras muitas das principais que iam no destacamento, sem eles poderem ser ofendidos pela espessura do mato, que os cobria e por que os forasteiros só pretendiam tirar-lhes as armas, e não as vidas, mandarão os feridos para o Arraial, de donde saíram persistindo constantes os mais no sitio uma noite e um dia, no qual lhes enviaram os Paulistas um buletim com bandeira branca, pedindo paz, e prometendo entregar as armas, se lhes dessem bom quartel. Concedeu-lhe Bento do Amaral, porém assim como se lhe apresentaram rendidos e entregaram as armas (oh ferina crueldade indigna de humanos feitos) gritou, que matassem aqueles que tantos danos, e mortes tinham causado nos Forasteiros, e foi logo fazendo estrago naqueles miseráveis desarmados aleivosamente recebidos... Fizeram nos miseráveis Paulistas tantos mortos, e feridos, que deixaram aquele infeliz campo coberto de corpos, uns já cadáveres outros meio mortos, ficando abatido, fúnebre o sítio pela memória da traição, e pelo horror do estrago; e com estas bizarrias cruéis voltou Amaral vilmente ufano com o seu destacamento para o lugar de onde saíra”.
Após este trágico episódio os paulistas recuaram, voltando, porém, a atacar mais tarde, quando sitiaram o Rio das Mortes e, de cima de uma montanha próxima ao rio disparam flechas inflamadas que provocaram alguns incêndios no Arraial. Já demorava dias o cerco, quando se soube da notícia que Gregório de Castro aproximava-se com um contingente para defender os moradores do Rio das Mortes. Temerosos retiraram os Paulistas e não voltaram mais a atacar o Rio das Mortes.
Com a exploração do ouro nos leitos de córregos e rios ou grupiaras, o Arraial Velho do Rio das Mortes se desenvolveu e cresceu para o lado do Cuiabá ao longo da estrada para as “Minas Gerais”.
No começo do governo de D. Pedro de Almeida e Portugal, sucessor de D. Baltazar da Silveira, no Governo da Capitania de São Paulo e Minas, os homens de destaque do Arraial Velho enviaram ao referido Governador uma petição para que se erigisse em Vila à freguesia de Santo Antonio. No governo anterior já se haviam feito a mesma petição que não tivera despacho favorável. É o seguinte o teor da tal petição: “Dizem os moradores da Freguezia de Santo Antônio do Arraial Velho que elles se acham com grande prejuízo e empedimento para tractarem os seus negócios na Villa de Sam Joam deÉl rey por estarem da outra parte do Rio das Mortes cujas passagens sam muito arriscadas e perigosas principalmente no tempo das águas em que a suas enchentes impossibilitam a recorrer a Vilas de Sam Joam de’El rey, e fica todo este povo sem aquele recurso para as partes além de ter experimentado que muitas pessoas que neste tempo se aventuraram a passar se afogaram por não haver canoas em que com segurança passassem, e perdem não só os seus negócios particulares senão também as do bem público: E como esta freguezia é uma das mayores das outras (sic), e esta mais distante da Villa com muita largueza de matas para roçar, como de (...) faisqueiras permanentes, etc., tem os moradores as suas casas quase todas cobertas de telhas por estarem as olarias perto da freguezia, e para que melhor se possa fazer o serviço de sua Magestade assim na arrecadação dos seos quintos, pois he sem duvida que quanto mais pessoas nesta diligencia se empregarem tanto mais fácil ser a dita cobrança, e senão experimentará o que seccedeu este anno em algumas minas que pertencem os seus distritos excessivamente dilatados viram restos mais crescidos por cobrar, com grande detrimento e despeza da fazenda real na dilação da Frota do Rio de Janeiro, como também serão mais bem obedecidas as ordens que Vossa Excellencia for servido distribuir, cuja execução ficará mais pronta e facilitada por haver muitos moradores e poderosos com os quais poderá conservar uma bela Villa das maiores destas Minas sem desfalque da Villa de São de Elrey, pode lhe ficar ainda um grande districto e porque já em outra ocasião pelas justificadas razões que apontam, fizeram o mesmo requerimento ao antecessor de Vossa Excellencia que não foram deferidas por se mandar informar de algumas pessoas que não tinhão conveniência em que se erigisse em Villa o dito Arrayal de Santo Antonio, suposto que de nenhum modo esta matéria prejudica a terceiros, antes udunta (?) em mais utilidade do serviço de sua Magestade e bom regimem dos povos. Esperamos da recta justiça de Vossa Excellencia que informado de desapaixonadas seja serviço dar-nos o despacho que esperamos. Portanto humildemente e Vossa Excellencia que atendendo ao referido e parar evitar algumas desuniões entre estes moradores e pela utilidade do serviço de ElRey lhe faça Mercê mandar erigir a dita freguezia em Villa e receberão Mercê. João Ferreira dos Santos, José Ferreira dos Santos, João André de Mattos, Silvestre Marques da Cunha, Domingos Ferreira dos Santos, João de Oliveira, Miguel Rodrigues, Manoel Pinheiro, Domingos da Silva, José da Silva, Domingos da Rocha Moreira, Domingos Ramalho Brito, Manoel da Silva de Moraes; Diogo Alves Cardoso, Jonio Fernandes Preto, Gonçalo Mendes da Cruz, Manoel Martins Machado, Gonçalo de Lima Rego”.
A petição acima teve despacho favorável de D. Pedro de Almeida, futuro Conde de Assumar, em 19 de janeiro de 1718. Por impedimento do ouvidor da Comarca do Rio das Mortes, o Dr. Valério da Costa Gouvêa, foi nomeado o Juiz Ordinário da Comarca Antonio de Oliveira Leitão para a instalação da Vila, que recebeu o nome de São José em homenagem ao príncipe D. José, futuro Rei de Portugal.
Assentou-se o Pelourinho “num largo e praça que faz no dito arraial abaixo freguezia, erigindo com elle Villa da qual deo logo parte aos moradores como também seo termo e districto começando este da banda de cá do Rio das Mortes ...”.
Elegeu-se a primeira Câmara formada por Manoel Carvalho Botelho, Manoel Dias Araújo, capitães; Domingos Ramalho de Brito, Manoel da Costa e Souza, Constantino Alves de Azevedo, vereadores; Gonçalo Mendes da Cruz procurador; Domingos Xavier Fernandes foi nomeado tesoureiro.
Ainda a 3 de fevereiro de 1718 na presença do ouvidor da Comarca foi demarcado o limite entre São José e São João del Rei, ficando estabelecido “por termo de diviza o Rio das Mortes da banda de cá entrando pelo Ribeirão chamado Elvas por ser a verdadeira madre do dito Rio das Mortes ...”.
Foram enviados ao Governador e a Coroa Portuguesa, várias reclamações da Câmara de São João del Rei contra a criação da Villa de São José e os litígios a respeito de delimitações se arrastaram durante todo o século XVIII. Mas em 12 de Janeiro de 1719, o rei, através de seu Conselho Ultramarino, confirma a criação da Vila de São José, com a ressalva de que o Governo não mais criasse Vila alguma sem ordem expressa da Coroa Portuguesa.
Em virtude de uma petição, o Governador de Minas concedeu em 7 de março de 1718 a Câmara da Vila de São José, meia légua de terras em quadra para nelas ter rendimentos para o Conselho da Câmara, excetuando as terras já em posse de terceiros e com plantações, cobrando foro das pessoas que construíssem e plantassem roças nestas terras.
Progredia a Vila e já em 1723 a seu termo somava 78 casas de negócio. O número de escravos matriculados para o pagamento do imposto de capitação era de 3.801. No decorrer do século XVIII a Vila vai dilatando o seu termo com a posse dos sertões e novos descobertos. Contando já com distritos longíquos como Catas Altas da Noruega, Itaverava, Carijós, Borda do Campo, e outros, a Câmara da Vila de São José toma posse, em 1747, dos descobertos de Tamanduá, que viria a ser a Vila de S. Bento, (hoje Itapecerica) e em 1754 do distante território de Pium-i (hoje cidade do mesmo nome). Nesta euforia de dilatação do território a Câmara de São José entra em sério litígio com a cidade de Mariana pela posse das terras do Chopotó, litígio este só resolvido com a interferência do Governo da Capitania. Com a conquista e posse dos “novos descobertos” de Bambuí (futura cidade do mesmo nome) a Vila de São José tem seu termo limitando-se com a capitania de Goiás.
Nos primeiros anos o ouro brotava docemente da terra e um fato nos dá conta disto: O capitão João Ferreira dos Santos e João de Oliveira descobriram grandes depósitos de ouro nas margens do leito do Rio das Mortes, em 1720, no local denominado Cuiabá, atualmente um bairro de Tiradentes.
A situação nos fins do século XVIII (1795) era a seguinte: possuía a Vila 10 sacerdotes, 57 vendas de secos e molhados, 14 lojas, 5 boticas, 2 médicos e 6 advogados. A freguesia contava com 10.926 fregueses, excetuando-se os habitantes das outras paróquias que estavam sob jurisdição da Vila de São José, como Nossa Senhora da Conceição de Prados.
O território mineiro dilatava-se e povoava-se, desbravavam-se novas terras e novos arraiais eram implantados. Estes arraiais se transformaram em freguesias e reclamavam autonomia política. E assim o termo da Vila de São José foi diminuindo, sob veementes protestos dos camaristas de São José, com a criação da Vila de Barbacena, no antigo arraial da Borda do Campo, em 1791, da Vila de S. Bento do Tamanduá, no antigo Arraial do Tamanduá, em 1789, da Vila Queluz, no Arraial dos Carijós, em 1790. Nas queixosas cartas enviadas a rainha contra a criação destas vilas os vereadores citam coisas interessantes como: “Nenhuma destas vilas tem calçadas, nenhuma tem hua fonte...”, “As igrejas de huas estão por desabar, e as de outras não são das mais decentes”, “As cazas da Câmara de todas ellas forão casas particulares que ainda estão por pagar...”. Nellas custa a achar quem ocupe os cargos de Câmara ...”.
Em 1826, o termo da Vila ainda continua grande, com 33 distritos, somando uma população de 23.933 habitantes, divididos em 6.515 brancos, 6.355 pardos (mulatos) e 10.826 negros, sendo 9.286 cativos.
Em 1808, a Câmara da Vila de São José carta a D. João, então regente, regozijando-se pela mudança da corte para o Brasil, o mesmo faz em 1818, por ocasião da aclamação de D. João VI rei de Portugal. Na Vila realizam-se grandes festas públicas com muita música e luminárias, missa solene, Te Deum, quando pregou o Pe. Francisco Rodrigues Fortes.
No processo de independência a Câmara de São José fez sua manifestação de apoio a causa, através do capitão José de Resende Costa Filho, que foi deputado às cortes e à constituinte. Em 12 de outubro de 1822, a Câmara e o povo de São José aclamam D. Pedro I imperador constitucional do Brasil e festejam a independência, como consta do relato enviado ao imperador: “... depois de concluído o ato de aclamação todos se dirigiram à Igreja Matriz, onde celebrou Missa solene o Reverendo Pároco Antonio Xavier de Sales Mattos, e o Reverendo Francisco Rodrigues Fortes Mestre de Gramática nesta Vila, recitou uma eloqüente oração análoga ao objeto: de tarde se cantou o Te Deum alternado com a Música em ação de graças ao Senhor Deus dos Impérios; por tão assinalado Benefício, assistindo a todos estes atos os Regimentos Milicianos em corpo formado e deram as descargas de costume. Todos os moradores espontaneamente iluminaram as suas casas o melhor que foi possível por espaço de nove dias: representaram-se três óperas em diferentes noites, duas pelos estudantes da classe do dito padre Mestre, e uma pelos Músicos da terra em teatro público, que para este fim se armou com decente formatura. ... Recitavam-se logo obras poéticas dirigidas ao mesmo fim. Nas mais noites desocupadas andavam pelas ruas farranchos de Música acompanhados de muito povo ...”. A ata de aclamação de D. Pedro imperador é assinada pelos vereadores e mais 118 homens dos mais representativos da Vila.
O Século XIX foi o século da decadência de São José, o ouro escasseara, as minas não mais produziram como antes. Um ou outro minerador ainda conseguia se manter. Grande parte da população, que havia feito fortuna na época áurea, desceu para o Vale do Paraíba, onde se dedicaram ao plantio de café, formando as novas cidades do ciclo do café. A comarca do Rio das Mortes sobreviveu quase que exclusivamente da agricultura e da criação de suínos que eram vendidos no Rio de Janeiro. Em 1828, estabeleceu-se em São José a “Mining Co Association”, conhecida como Companhia Inglesa, que durante um pequeno período explorou ouro nas famosas minas de São José, trazendo efêmera prosperidade ao lugar. A Companhia Inglesa comprou ao senhor Leão concessão imperial de exploração e formou um quadro de diretoria com 2 ingleses e 2 brasileiros. Um dos diretores, o Sr. Duval, trouxe de Hartz, Alemanha um grupo de mineradores para exploração eficiente das minas de São José, sendo que no final de 1828 já haviam quatro minas em funcionamento sob a supervisão do Mr. Miworld.
Segundo Richard, em 1800, São José tivera setenta teares que produziam tecidos de algodão da região. No censo 1831 constam 189 fiandeiras. Produzia-se também cal e telha em grandes escalas.
No campo político, as autoridades de São José apoiaram na revolta de 1842 o Barão de Cocais, quando se proclamou Presidente da Província. No extremo da decadência, pela Lei Provincial nº 360, de 30 de setembro do 1848, foi suprimido o município de São José que um ano após foi restaurado pela Lei 452, de 20 de outubro de 1849. A Lei 1.092, de 7 de outubro de 1860 concede a São José os foros de cidade, conservando a denominação de São Jose del Rei.
No ano de 1880 foi inaugurada a linha de barco a vapor no Rio das Mortes, iniciativa que vai perder o sentido com a instalação da estrada de ferro. D.Pedro II, no seu diário de viagem, observa que o vapor descia o rio, desde a Invernada, muito depressa, mas para subir levava dias. No ano de 1881, foi inaugurada a estrada de Ferro Oeste de Minas, entre São; João Del Rei e Sítio (atual Antonio Carlos), construída pela Companhia Oeste de Minas, com a concorrência de vários acionistas locais. D. Pedro II já havia viajado na locomotiva em 1880, no trecho concluído e aceitou o convite para inaugurar a linha completa, o que se deu 28 de agosto do referido ano. A estrada de ferro trouxe comodidade para os habitantes de São José.
No início do ano de 1889, o escritor Silva Jardim, em visita a região, após ter passado por São João del Rei, chega a São José e na própria estação da EFOM fez um discurso inflamado sobre a causa republicana e sugeriu a mudança do nome da cidade para Tiradentes, em homenagem ao seu filho mais ilustre. Proclamada a república, em 15 de novembro, o presidente provisório de Minas, José Cezário de Faria Alvim, decreta a mudança do nome de São José para Tiradentes, por decreto, em 6 de dezembro de 1889.
Logo em 1890 é criada a comarca de Tiradentes, sendo nomeado seu primeiro Juiz o Dr.Gastão da Cunha, a 29 do julho daquele ano. Jurista renomado e diplomata o Dr. Gastão Cunha.foi posteriormente representante do Brasi1 no Liga das Nações. Dois anos depois, em 22 de fevereiro de 1892, foi nomeado para a comarca o Dr. Edmundo Pereira Lins, nascido no Serro em 1863, um respeitado jurista e latinista da época. Em Tiradentes escreveu seus famosos relatórios jurídicos e permaneceu até o começo de 1897 quando se transferiu para Ouro Preto. Dr. Lins, em 1898, instala a comarca da capital mineira e mais tarde (1931) chega ao alto posto de presidente do Supremo Tribunal Federal.
Foi Juiz substituto do Dr. Lins, em Tiradentes, o Dr. Wladimir do Nascimento Matta, que se dedicou a alfabetização dos adultos e presos em sua comarca. O Dr.Lamonier Junior assume a judicatura de Tiradentes após o Dr. Malta e fica até a mudança da sede da comarca para Prados, no início deste século. Tiradentes torna-se termo anexo da comarca de Prados até 1936, quando se vai anexar novamente a comarca de São João Del Rei, da qual havia sido desmembrada.
Por volta de 1899/1900, a cidade contava com 194 casas bastante arruinadas, sendo 19 sobrados. O município era constituído pelo distrito sede, Barroso e Lage. A paróquia tinha três capelas filiais: Bichinho, Gaspar e Mosquito. A população contava 11.000 habitantes, sendo que 3.500 viviam na sede do município; a economia baseava-se na agropecuária, exportação de queijos, exploração de caolim, ocas e cristais, além de pequena produção aurífera. Nesta época introduziram os imigrantes italianos o cultivo de videiras que já davam alguns resultados.
Em 1891, foi fundada uma sociedade comemorativa do centenário do Tiradentes, que erigiu em 1892 uma coluna para marcar a data, no Largo das Forras, e foram realizadas naquele ano, a 21 de abril, grandes comemorações cívico-religiosas.
No campo da imprensa publicou-se em Tiradentes os jornais: “O Popular” a partir de 1839, “O Patriota” em 1887, a “Folha de Tiradentes”, fundada e mantida pelo promotor público Presalindo Lery dos Santos e cujo primeiro número veio ao público em 10 de Janeiro de 1891, circulando apenas um ano. Ainda no final do século XIX publicou-se “A Aurora” de efêmera duração. Na primeira metade do século XX, apareceu “O Progresso” também de curta duração. Este último era editado pela Partido Republicano Mineiro.
Em 1922, foi instalada a iluminação elétrica que juntamente com a água canalizada, em 1915, representaram grande conforto para a população, que se abastecia da água do Chafariz e tinha a cidade iluminada por apenas 24 lâmpadas à querosene, instalados no século XIX.
Entre 1959 e 1963 o antigo calçamento de pé de moleque setecentista foi substituído por grandes lajes de quartzito extraídas da Serra de São José.
Durante o século XIX, a cidade de São José recebeu as visitas do imperador Pedro I, por duas vezes em 1822, quando buscava apoio para a independência e em 1831, quando já com a vida política desgastada tentava buscar em Minas apoio a seu governo. Seu filho, Pedro II, já no fim de seu reinado passou por São José em 1880 e 1881, quando inaugurou a Estrada de Ferro. Princesa Isabel e o marido Conde D’Eu também passaram pela cidade nos fins do período monárquico.
O bispo Dom Antonio da Costa Macedo, conhecido pela sua participação na questão religiosa com o governo imperial, freqüentava São José, para buscar melhoras de seus males nas águas termais de “Águas Santas”. Os presidentes de Minas Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira (1892), Afonso Pena (1893) e Antonio Carlos (1929) visitaram Tiradentes durante seus governos. Dr. Israel Pinheiro, quando governador de Minas, instituiu a solenidade oficial de abertura da Semana da Inconfidência na cidade, inaugurou a estrada pavimentada de acesso à Tiradentes e mandou comemorar o 250º de criação da vila com solenidades, cursos e a criação da Medalha Cidade de Tiradentes, em 1968.